Fiquei um tempo sem escrever no blogue porque inventei que teria que contar a história mais "contável" da minha vida. Ela é enorme e cheia de detalhes, por isso, decidi postá-la somente depois de prontinha, linda. Escrevia um pouco a cada dia e deixava o rascunho lá, mofando na sombra. Me impedindo de ter outras idéias para continuar postando aqui. Sábado passado, tive o prazer de me sentar com meu grande amigo México para uma cervejada. Lá pelas tantas, a história surgiu. Acho que fiquei mais de uma hora narrando os detalhes para o meu interlocutor curioso. Foi aí que percebi que esse fato deve ser contado numa mesa de bar ou em qualquer outro ambiente onde existam copos. Senti um grande alívio quando percebi que não devo escrever este ocorrido. Mesmo assim, não gostaria de disperdiçar a foto que encontrei do piloto do balão que me deu uma carona pra um passeio turístico pela praia de Torres durante um festival de balonismo em 1994 e acabou fazendo uma cagada que nos levou a naufragar pelos ares por mais de 2 horas e pelo mar por mais de 1 hora até que um homem-rã aparecesse descendo de um helicóptero e me tirasse de lá num vôo fantástico pendurada em um cabo de aço e que me fez aterrizar na carroceria do caminhão de bombeiros que me levaria ao pronto socorro de Tramandaí, onde fui cuidada por uma família de tomadores de wiskey e fumadores de lark vermelho enquanto esperava meus pais chegarem. Pra quem me encontrar num bar e quiser saber os detalhes dessa história, a senha é a seguinte: Flamarion Barreto
Casei no dia 25 de janeiro de 2005. Quem já casou sabe que depois que os pais são notificados, nada mais precisa ser feito pelos noivos. Bebida, comida, lista de convidados, bolo e até coisas que você considera um desperdício inútil, como flores, guardanapos, e outras coisas que acabam virando pó ou merda no dia seguinte, tudo isso é providenciado pelos pais contentes em apenas uma tarde. Aí você chega do trabalho cansada e não consegue entrar em casa, pois tem caixas e mais caixas de espumante no caminho. Não te perguntam nada. Mas tudo bem, acaba sendo confortável. O problema aqui é que a aliança ficou a encargo do noivo, como de costume. Acontece que eu resolvi casar com o cara mais esquecido e atrapalhado do mundo. E calmo como um sapo. O mundo pode estar caindo que ele só olha pra mim e diz: “Relaxa”. E foi com essa tranqüilidade que ele me anunciou, uma hora antes do casamento, que ainda não havia comprado as alianças. Eu morava num distrito que fica a 20 minutos do centro de Campinas, então levaria 40 minutos pra ir até lá, buscar o noivo e mais 2 padrinhos e voltar pra Sousas (onde eu morava com os meus pais e onde ficava o cartório). E mesmo assim o cara queria ir até o centrão procurar alianças? Isso se encomenda, meu. Deixa as alianças pra lá. Pego emprestada de alguém, vamos embora que juiz não espera. Mas quem disse que o cara deu bola pro meu chilique? “Relaxa”, ele disse com um ar de que já tava achando engraçado o meu pavor. Com um sorriso pendurado no canto da boca e uma madrinha no banco de trás, fomos ao calçadão central procurar uma loja que ninguém tinha certeza onde era pra procurar alianças à pronta-entrega. A loja tinha mesmo pronta entrega, mas não tinha nosso número, então demos uma semi-camelada de salto 12 pra achar outra que nos indicaram. Não casei vestida de noiva, mas tinha caprichado na produção que começava a derreter com o sol de janeiro. Entrei em outra loja e disse pra vendedora: “O que você tem pra eu levar agora? Meu dedo é 15, o dele é 25 e o casamento é daqui 20 minutos em Sousas. Não fica nervosa”. A menina começou a tremer e todas as balconistas ficaram se trombando pra tentar agilizar a venda, mas acabamos perdendo uns 5 minutos lá dentro. Parecia que ia dar certo, mas o Marino, meu digníssimo esposo, resolveu sair antes pra ir buscar o carro no estacionamento e nos pegar na boca do calçadão. Chegando ao estacionamento, faltaram 5 centavos pra pagar os caras e tirar o carro de lá, então o Marino voltou tranqüilamente pra nos procurar, e é claro que acabamos nos perdendo. Me sentia naquele seriado “24 Horas”, Jack Bauer tentando salvar o planeta e a sua família e um gato entalado em um cano enquanto era perseguido por terroristas, amantes vingativas e corretores de seguros. Tava começando a ficar puta, mas aí vi ele perdido do outro lado da rua e corremos para o carro. Rolou mais uma “maratona salto 12” até o estacionamento e vi que o relógio marcava 2:56 (o casamento era as 3). Centrão congestionado, 20 minutos de saga e um padrinho pra buscar no caminho. Já ia começar meu discurso de “mulher vaca” que você não faz nada com antecedência, que tudo na nossa vida tem que ser no pavor, nada pode correr tranqüilamente, bla bla bla bla, mas como ainda dava tempo de ele desistir de casar comigo, resolvi ficar quieta e fingir que estava calma, mesmo com as mãos suando e as pernas tremendo. A madrinha no banco de trás, nem se fala, tava com medo até de abrir a boca. O padrinho nos esperava em uma esquina do caminho e entrou no carro com umas long necks na mão e cheio de energia ula-lá. Isso começou a me acalmar. Pra quebrar o gelo, o Marino disse: “Vamos ouvir um som então”. Deu play e adivinha o que estava dentro do cd do carro? BAD ASS ROCK`N ROLL! O segundo disco da banda goiana MQN com a qual já havia dividido muitos palcos e copos de cerveja. Veio muito a calhar. Som no último volume, carro à toda e eu resolvi entrar em ritmo de brincadeira, acenando pros carros saírem da frente, enquanto os padrinhos dançavam no banco de trás. Quando algum motorista fazia menção de me mandar tomar no cu, eu colocava a cabeça pra fora e gritava: “Eu tenho que casar as 3 horas!”. Aí o povo saía da frente, buzinava, dava tchauzinho, maior espírito de solidariedade: Aí, vamos ajudar essa balzaca a desencalhar, né? No fim das contas cheguei atrasada, mas o juiz também se atrasou e acabou dando tudo certo. Casei. Esse episódio vai ficar pra sempre na minha memória embalado pelo som da MQN no máximo volume. Meus grandes companheiros de putaria anunciando que a putaria estava prestes a terminar. Nada como um rock do capeta pra relaxar...