Também tenho blogue!

Egotrip dos infernos.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Eu tenho um filho.

Eu tenho um filho que aprendeu a andar esses dias. Tá que tá com a novidade e não quer mais saber de colo ou de dar a mão pra adulto nenhum.
Com sua nova habilidade, sai cambaleando pela casa batendo a cabeça nas quinas das mesas, levando tombos de cara no chão e chorando muito. Vive com galos e arranhões. Quando quer fugir de mim é pior. O cara não sabe correr. Sabe menos ainda como fazer uma curva durante uma fuga e acaba, sempre, metendo a cara nas batentes das portas. Dói só de olhar. Também dói olhar minha sobrinha desastrada que insiste em subir as escadas saltitando e SEMPRE escorrega e bate a canela na quina dos dagraus. Vocês se lembram da dor que uma queda dessas produz?
Analisando o universo infantil, cheguei à conclusão de que os adultos sentem menos dor que as crianças. Principalmente adultos sedentários e pacíficos. Porque os adultos já sabem que têm que olhar por onde andam e evitar um choque da virilha com a quina de algum móvel. Também sabem que não se sobe escadas saltitando. É cansativo. Na verdade, adultos evitam escadas. Preferem usar o elevador.
Envolta por esses pensamentos, tentei me lembrar da última vez que senti uma dor comparável à essa que as crianças sentem todos os dias, várias vezes por dia.
Foi numa festa que eu não deveria ter ido, em Porto Alegre no ano de 2003. Estava voltando para casa depois de um show que a minha banda havia feito em alguma cidade da Grande Porto Alegre e resolvi dar uma espiada no bar de um amigo meu. Falei com o porteiro, que também era meu amigo e ele me disse que todos os meus amigos estavam lá dentro e que a festa estava bombando. O que pode te acontecer de ruim no meio de tantos amigos?
Entrei pagando o ingresso, porque em bar de amigo eu faço questão de pagar, e providenciei um drink antes de fazer a ronda da beijolança (que consiste em percorrer todos os aposentos do bar cumprimentando os amigos com beijinhos). Festa boa, talvez cheia demais, mas o clima tava leve na medida do possível, pois dentro de bar nunca há leveza total.
Fui falar com um amigo que estava parado no fim do corredor conversando com um cara que eu nunca tinha visto. Era um gordo que devia ter seus 50 anos, vestido como aqueles tiozinhos que passam o dia no bar e tomam banho uma vez por semana. Beijinho no amigo, como é que tu tá, cadê a fulana e eis que sinto uma mão peluda por baixo da minha saia. O velho nojento fez um movimento rápido com o dedão, que subiu pela minha bunda e entrou na minha calcinha.
Horrorizada empurrei o velho pra trás e disse: "Eu não sei quem você é e isso foi nojen..."
Antes que eu pudesse terminar a frase, vi uma mão grande e fechada vindo na direção do meu rosto. O soco pegou no lado esquerdo da minha boca e minha cabeça foi jogada para trás, indo se encontrar com a quina da parede. Meio tonta, mas ainda de pé, abri meus olhos para ver meu amigo que estava com o cara gritando desesperado "Por que tu fez isso?, por que tu fez isso?" Ele gritava tão histericamente que sua voz saía fina "por que tu fez isso?" E em seguida, vi a outra mão gorda do velho vindo em minha direção. Desta vez ele socou o lado direito da minha boca num gancho tão perfeito que levantou meus pés do chão. Aterrizei de costas no meio da pista e quando levantei minha cabeça pra tentar entender o que tinha acontecido, pude ver o velho no chão, cercado por uns 10 caras, todos amigos meus, que chutavam seu corpo, seu rosto, alguns até se abaixavam para socá-lo. Fui tirada da pista ainda em choque e o dono do bar veio me trazer um drink por conta da casa, saber se eu estava bem, pedir desculpas e essas coisas. Só não queria me deixar ir embora. "Ah, Velha, agora é que tu tem que ficar. Aproveitar a festa pra esquecer o que aconteceu. Bebida por minha conta!"
Depois soube que o cara foi tirado do meio da pancadaria pelo dono do bar pra evitar que ele fosse morto à pancadas. Foi carregado para frente de seu prédio. O dono do bar tocou o interfone e deixou ele lá. Soube também quem era esse cara. O tal do Tio Toni, de quem eu já havia ouvido falar inúmeras vezes: "Acabou o fumo, vamos passar lá no tio Toni pra pegar mais".
O Tio Toni era o trafi da região roqueira da Porto Alegre. Morava perto dos bares e atendia 24h exceto quando sua mulher estava menstruada. Diziam que a maconha era cara e minguada, mas chapava pra caralho. Também diziam que o pó era caro e minguado e não dava barato nenhum, mas quando o Bororó ia embora das festas, era o Tio Toni a última salvação da drogadição roqueira.
No dia seguinte ao ocorrido, o dono do bar foi à casa do Tio Toni avisá-lo que ele não podia mais entrar no bar. O velho não sabia porque tinha apanhado. Nem lembrava onde. E o dono do bar contou. Falou também que o povo do bairro ia boicotar ele, pois eram todos meus amigos. Depois que saiu da casa do tio Toni, ouviu a esposa do velho dando uma surra nele.
Eu, no dia seguinte, estava com a boca inchada e uma buceta aberta no meu couro cabeludo. Não vi o sangue correr na noite anterior, só sentia minha cabeça arder. Ia ser madrinha de casamento naquele dia e fiquei feliz em ver que minha boca inchou por igual. Ainda bem que ele me bateu nos dois lados. Até que ficou sexy. Menos mal.
Felizmente, essa foi a única dor física de que tenho recordação no meu passado recente. Se caí de bêbada, não doeu. Eu tava bêbada.
Olhando meu filho aprendendo a caminhar, sinto pena por toda a dor que ainda o espera no decorrer da sua infância e faço votos que, quando ele crescer, não se meta com nenhum tio Toni da vida, senão quebro ele de porrada.


segunda-feira, 14 de maio de 2007

Eu tenho um irmão!


Na verdade eu tenho dois, mas um deles costuma atualizar seu blogue semanalmente. Ele também quer que eu escreva. Diz ele que quer muito.
Por isso, e pra ter assunto, vou começar falando dele.
Dizem as candinhas que quando eu era um bebê assustadoramente horroroso, ele era meu fã. Depois a gente cresceu e os papéis se inverteram. Por admirá-lo, virei uma maloqueira. Também virei roqueira e sonhava em, quando crescesse, ser como os caras do Led Zeppelin no vídeo "The Songs Remains the Same" que eu roubava do armário do seu quarto enquanto ele tirava sua sesta depois da escola. Cresci e saí em turnê com a banda que eu formei com uns amigos. Papéis re-invertidos. Joe, o irmão em questão, virou meu fã novamente. Mas desconfio que não foi por causa da banda e sim por termos crescido e nos tornado pessoas parecidas. Isso aconteceu quando o Joe saiu de casa pra estudar longe e, vocês sabem, a distância faz milagres!
Gostávamos das mesmas coisas, das mesmas baladas, das mesmas pessoas, das mesmas bebidas na mesma quatidade. Eu era, provavelmente, a única pessoa capaz de constrangê-lo. Ele, o constrangedor profissional. Ficamos anos nos amando a distância até que ele descobriu qual a empresa aérea fazia a rota Campinas-Porto Alegre. Ele também descobriu que Porto Alegre fazia jus ao nome e passou a colocar a cidade em seu roteiro de férias.
Normalmente nos encontrávamos na praia do Siriú em datas festivas e depois de muita areia na bunda, cerveja polar, pizza de marguerita, caganeira, banhos bêbados de mar e chacota com argentinos, rumávamos pra minha casa em Porto Alegre para mais um pouquinho de auto-destruição antes das férias dele terminarem. As dele, porque as minhas nunca terminavam. Tocava numa banda, afinal.
Um dia a festa acabou. Meu pai desmanchou nosso qg de bebedeiras e eu tive que voltar pra Campinas, onde meu irmão morava com meus pais. Ele já estava afim de sair do Brasil, pois andava meio mal com a falta de grana e perspectiva nesse país governado por vocês sabem quem.
Eu, recém chegada, descobri que meus amigos de infância e adolecência não tinham mais nada a ver comigo. Sentia afinidade por conhecidos do passado e pelos amigos do meu irmão. Emprego? Quase impossível para uma jornalista que se formou, caiu na estrada com uma banda de rock e tentou voltar ao mercado 5 anos depois. Em 2 meses minha grana acabou.
Meu irmão estava, naquela época, em ritmo de mudança. Cagado até o topo da alma, ele ia vendendo suas coisas pra fazer um pé de meia antes de se aventurar na vida de imigrante ilegal na Europa. No final das contas, acabávamos bebendo toda a grana que ele angariava pela venda dos seus bens. Primeiro bebemos seu baixo rickembaker, depois seu amplificador, em seguida, bebemos seu computador e logo ele só tinha o carro como garantia de subsistência na sua nova aventura. Acho que bebemos só as rodas do carro, talvez o som, mas não tenho tanta certeza.
Ele vivia tentando oferecer meus serviços para seus amigos de agência de publicidade, assessoria de imprensa e tal. Afinal, ele queria me ver numa boa. Provavelmente também sonhava com o dia em que eu pagaria a conta do bar. Me conseguiu um trabalho que não era trabalho, era uma barbada de vagabundo que consisitia em assinar como jornalista responsável num jornal de concessionária. Rendia uns pilinhas por mês e com esse dinheiro, comprei a bicicleta dele. Depois bebemos a bicicleta.
Antes que bebêssemos mais algum bem dele, ele chegou a me oferecer dinheiro para publicar meu currículo num desses sites de recolocação profissional. Mas quando viu que o seu próprio currículo foi ignorado neste mesmo site, desistiu da oferta. Bebemos então o dinheiro da publicação do currículo.
Faltando poucos meses para sua partida para Londres, ele me chamou num canto e me disse uma coisa que eu nunca vou me esquecer: "Gudinha (é, esse é meu apelido em casa e eu não tenho vergonha dele, mas não me chamem assim, tá?), nós vamos fazer o seguinte: eu chego em Londres, arrumo um lugar pra ficar, começo a trabalhar, e quando estiver com a vida acertada e uma graninha sobrando, te mando o dinheiro pra você comprar sua passagem e ir se juntar a nós (ele e meu outro irmão maravilhoso que logo terá um post em sua homenagem também). Você vem morar comigo, arruma um trabalho e a gente sai dessa merda. E ainda por cima, vamos ficar juntos. Nós 3."
Dias depois, conheci um homem lindo que me deu emprego e quis me namorar. Nem preciso dizer que foi meu irmão que nos apresentou. Resolvi ficar no Brasil, casar e ter filhos.
Meu irmão foi. Ralou o cu como homem placa, faxineiro de restaurante, lavador de pratos, limpador de camarão e o que mais o diabo inventar pra torturar a humanidade. Num de nossos contatos posteriores à sua mudança ele me disse: "Ainda bem que você resolveu ficar aí no Brasil, porque eu não ia ter grana sobrando pra te mandar a passagem." Sei que se o nosso plano tivesse continuado em pé, ele teria até se prostituído pra conseguir o dinheiro pra mim. Mas como eu resolvi dar outro rumo na minha vida, sorte dele!
Hoje ele tá ótimo. Uns 3 meses depois da sua mudança pra Londres, sua namorada brasileira filha de belga foi juntar-se a ele. Casaram, ele conseguiu cidadania belga e trabalha numa multinacional justamente na área em que se formou: arquiteto.
Sei que ele está lendo esse blog no conforto do seu lar, uma cobertura charmosa em Louvain La Neuve, cidade universitária grudada em Bruxelas, na companhia de sua esposa querida, tomando uma cerveja cara e comprando online produtos inúteis de última geração. Dedico esse post a ele, que escreve um blog sensacional, lido em mais de 80 países e traduzido para mais de 245 línguas.

Joebass é meu irmão, e eu adooooooro!

Eu também tenho um Blogue


Uma noite, passeando por gramado com minha amiga Graziela Canella num fusca super-luxo que alugamos por lá, ela me disse: "Se você quer lembrar como se escreve, crie um blogue, ou venha colaborar na revista que eu edito."

Escolhi colaborar na revista, mas como faz tempo que ela não me chama pra fazer nenhuma pauta, resolvi seguir o outro conselho dela. Por que não?

Agora, eu também tenho um blogue.