Também tenho blogue!

Egotrip dos infernos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Eu tenho vergonha.

Faz um tempo que minha vida anda meio abandonada. Larguei uma rotina de sexo trago e rock pra me dedicar ao lar, acreditando que gradativamente minha essência voltaria à tona de forma mais equilibrada, com menos excessos, menos ressacas, menos cagadas.

Quando morava em Campinas, fui, aos poucos, ficando à vontade para sair uma noite por semana pra tomar umas cervejas com os amigos e assistir a qualquer show barulhento enquanto meu marido e meu filho ficavam guardadinhos em casa. A verdade é que depois que seu filho nasce, vocâ acaba preferindo ficar em casa ou porque está podre de cansada ou porque prefere companhia da sua família, ou pelos dois motivos citados. Mesmo assim, colocava essas saídas noturnas como uma obrigação para conseguir manter contato com o mundo exterior. E era bom.

Mas eis que uma mudança me desmoronou. Vim parar em Curitiba com meu marido e filho, mais de 30 anos nas costas, poucos amigos nesta cidade e nenhuma atividade social (emprego, estudo, religião, voluntariado, o caralho).
Tô virando a "mulher-mofo", ficando cri-cri, gorda e fraquinha pra bebida. Meu marido fica puto. Acha que eu tenho que encarar umas noitadas, conhecer gente, tomar uns tragos pra ver se saio desse marasmo. Eu discordava dele até ontem, mas a reveleção divina apareceu por meios surpreendentes.

Ouvi no rádio que o Nasi (ex-Ira) ia fazer um show aqui tendo a Relespública como banda de apoio. A Reles é uma velha conhecida minha dos meus tempos de rock. Minha casa em Porto Alegre era o albergue das bandas que iam ao RS se apresentar e com isso fiz vários amigos eternos. Os três meninos da Reles são alguns desses. Não consegui companhia para ir ao show mas imaginei que os caras da banda estariam com suas namoradas, com quem também me relaciono muito bem e são ótimas companhias para beber e dançar. E também imaginei que não sentiria nenhum constrangimento em estar meio enferrujada no meio de desconhecidos, afinal, pensei eu, o público do Nasi é composto por um bando de roqueiros velhos. Cheguei lá e vi que a casa de shows é um lugar de pegação, com gente jovem, elegante e desmiolada. Ninguém que eu conhecesse. Pensei até em ir embora, mas meu marido ia ficar muito possesso se eu aparecesse em casa 30 minutos depois de ter saído. Fiquei lá.

Assisti ao show quase na frente do palco, com uma cervejinha na mão, cantando as músicas e dançando passinhos curtos e tímidos. Eu sou assim. Fico tímida quando estou sóbria e sozinha.
Lá pela metade do show, me vem essa mulher, aparentando ter uns 45 anos, cabelo desgrenhado, totalmente fora de forma e com roupas masculinas. Ela tinha na mão um copinho de tequila, que veio me oferecer quase enfiando seu conteúdo na minha boca. "Bebe", ela falou. Agradeci, disse que não misturava bebida, que tava dirigindo, que tinha fralda cagada me esperando ao amanhecer e que não podia me estragar. Aí ela falou a frase que me desmoronou:
"Você tá muito séria pra um show de rock."
Murchei. Fui pro cantinho, enconstei meu cotovelo no bar e não parei de pensar nisso até agora. Será que minha alma tem salvação?

"quem te viu e quem te vê, Katia..." diz minha consciência.

Pra não terminar em clima de ressaca deprê, deixo aqui um vídeo da Relespública pra quem não conhece.