Eu tenho vergonha.
Faz um tempo que minha vida anda meio abandonada. Larguei uma rotina de sexo trago e rock pra me dedicar ao lar, acreditando que gradativamente minha essência voltaria à tona de forma mais equilibrada, com menos excessos, menos ressacas, menos cagadas.
Quando morava em Campinas, fui, aos poucos, ficando à vontade para sair uma noite por semana pra tomar umas cervejas com os amigos e assistir a qualquer show barulhento enquanto meu marido e meu filho ficavam guardadinhos em casa. A verdade é que depois que seu filho nasce, vocâ acaba preferindo ficar em casa ou porque está podre de cansada ou porque prefere companhia da sua família, ou pelos dois motivos citados. Mesmo assim, colocava essas saídas noturnas como uma obrigação para conseguir manter contato com o mundo exterior. E era bom.
Mas eis que uma mudança me desmoronou. Vim parar em Curitiba com meu marido e filho, mais de 30 anos nas costas, poucos amigos nesta cidade e nenhuma atividade social (emprego, estudo, religião, voluntariado, o caralho).
Tô virando a "mulher-mofo", ficando cri-cri, gorda e fraquinha pra bebida. Meu marido fica puto. Acha que eu tenho que encarar umas noitadas, conhecer gente, tomar uns tragos pra ver se saio desse marasmo. Eu discordava dele até ontem, mas a reveleção divina apareceu por meios surpreendentes.
Ouvi no rádio que o Nasi (ex-Ira) ia fazer um show aqui tendo a Relespública como banda de apoio. A Reles é uma velha conhecida minha dos meus tempos de rock. Minha casa em Porto Alegre era o albergue das bandas que iam ao RS se apresentar e com isso fiz vários amigos eternos. Os três meninos da Reles são alguns desses. Não consegui companhia para ir ao show mas imaginei que os caras da banda estariam com suas namoradas, com quem também me relaciono muito bem e são ótimas companhias para beber e dançar. E também imaginei que não sentiria nenhum constrangimento em estar meio enferrujada no meio de desconhecidos, afinal, pensei eu, o público do Nasi é composto por um bando de roqueiros velhos. Cheguei lá e vi que a casa de shows é um lugar de pegação, com gente jovem, elegante e desmiolada. Ninguém que eu conhecesse. Pensei até em ir embora, mas meu marido ia ficar muito possesso se eu aparecesse em casa 30 minutos depois de ter saído. Fiquei lá.
Assisti ao show quase na frente do palco, com uma cervejinha na mão, cantando as músicas e dançando passinhos curtos e tímidos. Eu sou assim. Fico tímida quando estou sóbria e sozinha.
Lá pela metade do show, me vem essa mulher, aparentando ter uns 45 anos, cabelo desgrenhado, totalmente fora de forma e com roupas masculinas. Ela tinha na mão um copinho de tequila, que veio me oferecer quase enfiando seu conteúdo na minha boca. "Bebe", ela falou. Agradeci, disse que não misturava bebida, que tava dirigindo, que tinha fralda cagada me esperando ao amanhecer e que não podia me estragar. Aí ela falou a frase que me desmoronou:
"Você tá muito séria pra um show de rock."
Murchei. Fui pro cantinho, enconstei meu cotovelo no bar e não parei de pensar nisso até agora. Será que minha alma tem salvação?
"quem te viu e quem te vê, Katia..." diz minha consciência.
Pra não terminar em clima de ressaca deprê, deixo aqui um vídeo da Relespública pra quem não conhece.
9 Comentários:
Você podia até estar, mas não é! Não se exija tanto, criatura!
putz, entendi muito o que vc quis dizer, vim pra (curitiba) cá fugindo de certas coisas, foi dificil arranjar amigos, dificil mesmo, mais hoje consegui, sem muito esforço, foi natural, dizem que quanto mais velhos somos, mais dificil de "fazer amigos", adoro shows, e rock, mais o que me fez entender as coisas, era que eu não precisava de gente do meu lado pra curtir algo, a gente num pode condicionar a vida da gente nem nada a ninguem, eu comecei a sair sozinho e ver os shows tb, acabei que fiz muitos amigos assim, talvez vc esteja forçando, sai de Londrina, cidade de universitarios, bebados, desmiolados, como eu, e eu era super solitario, logo la que todo mundo é "amigo" e aqui em curitiba, me sinto muito mais em casa e em familia do que la, ironico, acho que vc deveria num condicionar as coisas, tipo, eu tenho que sair 3 vezes por mês, to ficando velha, isso, aquilo, meu filho, tipo pra um cara de 24 anos ,eu as vezes fico 2 meses sem sair, é muito ,mais num fico na neura, saio quando tenho vontade, sem pretenção de nada, mais é isso, bjs.
da uma olhada aqui, serio, veja mesmo, me ajudo a num fazer uma loucura la em londrina, acho que vc pode gostar, num que vc seja solitaria, num é isso, mais sei la, só quero ajuda: http://www.rubemalves.com.br/asolidaoamiga.htm
Me identifiquei muito com a sua história, porque, apesar de nunca ter arrastado meus pezinhos pra morar em outro lugar que não seja essa fria Curitiba (que durante muito tempo achei ser o lugar mais quente da Terra) me senti em outro mundo quando me casei e me tornei mãe. Era muito novinha e a doce ilusão de me casar e criar minha filha num lar perfeito se tornou em uma rotina dura e pesada, na qual aos poucos fui deixando de lado pequenos prazeres que hoje me fazem muita falta, como os shows do reles, a poesia que eu adorava escrever, as musicas que eu gostava de cantar. Me descobri tentando fazer novamente essas coisas e me senti pequena, incapaz e sem rebolado. Taí, acho que perdi meu rebolado. Amei os seus relatos e as suas histórias e admito que não consigo sair sozinha nunca, pq de fato já me taxaram de uma pessoa muuuito descolada, mas sozinha em público sou a pessoa mais tímida que conheço. Desculpe-me não comentar mais o seu texto e menos a minha vida, mas adorei e me identifiquei muito, de verdade. Um beijão pra você!
Ka, beleza teu blog..to adorando...criança é um barato, a gente fica criança junto...curta isso ao máximo, é uma fase que logo vai mudar (ele vai virar um mocinho)beijao no coração - ass.outra mãe palhaça que dança o positoni entre minhas audiências no fórum (qualquer dia eu danço pro Juiz)..pura terapia..Xis
Êêêêêêêêêê !
Cumpriu com a cota anual de posts !
Agora é só esperarmos por 2009
Lov.e
Joe Bass
aiai
eu queria ficar mais assim, certinha!
mas tenho vontade de sair sempre
Querida, é um grande esteriótipo que você esta impondo na sua cabeça. A maior bobagem são esses paradigmas de que eu sou muito novo pra isso, ou eu sou muito velho para aquilo, a maior bobagem.
Como gostar de rock, ir em shows, ter que beber, fazer alguma coisa errada para se sentir óóó.
A sua verdadeira essência é o que embaixo desses rótulos. Feche os olhos e lembre-se de quando você tinha 7 anos, lembre-se do cheiro, dos lugares. Saia dessa taxação, de que você tem que ser isso ou aqui. Que tem que voltar tarde para os outros. Faça por você.
E tem outra não existe certo ou errado. Nem Pra cima e nem pra baixo.
Eu posso achar "RadicoLLL" "MetoooL" assitir cultura com meu filho, entrar nas bricadeiras dele.
Ser "Certinho" ou "erradinho" só para me aparecer para os outros?
Não! eu faço o que eu tenho vontade, por mim. e sou feliz.
você pode até fugir de tudo que eu disse, pra ficar mais confortável.
Se tiver coragem saia da sua ZONA DE CONFORTO
E voce, sua Tonha, vai ficar também de sacanagem pra fazer um post novo igual ao EMO do teu irmão HOMO?
porra eu tava nesse show... foi ali na Batel, né? num bar de boy. a gente nem se conhecia. senão a história tinha sido outra.
blé.
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