Eu tenho um irmão!
Na verdade eu tenho dois, mas um deles costuma atualizar seu blogue semanalmente. Ele também quer que eu escreva. Diz ele que quer muito.
Por isso, e pra ter assunto, vou começar falando dele.
Dizem as candinhas que quando eu era um bebê assustadoramente horroroso, ele era meu fã. Depois a gente cresceu e os papéis se inverteram. Por admirá-lo, virei uma maloqueira. Também virei roqueira e sonhava em, quando crescesse, ser como os caras do Led Zeppelin no vídeo "The Songs Remains the Same" que eu roubava do armário do seu quarto enquanto ele tirava sua sesta depois da escola. Cresci e saí em turnê com a banda que eu formei com uns amigos. Papéis re-invertidos. Joe, o irmão em questão, virou meu fã novamente. Mas desconfio que não foi por causa da banda e sim por termos crescido e nos tornado pessoas parecidas. Isso aconteceu quando o Joe saiu de casa pra estudar longe e, vocês sabem, a distância faz milagres!
Gostávamos das mesmas coisas, das mesmas baladas, das mesmas pessoas, das mesmas bebidas na mesma quatidade. Eu era, provavelmente, a única pessoa capaz de constrangê-lo. Ele, o constrangedor profissional. Ficamos anos nos amando a distância até que ele descobriu qual a empresa aérea fazia a rota Campinas-Porto Alegre. Ele também descobriu que Porto Alegre fazia jus ao nome e passou a colocar a cidade em seu roteiro de férias.
Normalmente nos encontrávamos na praia do Siriú em datas festivas e depois de muita areia na bunda, cerveja polar, pizza de marguerita, caganeira, banhos bêbados de mar e chacota com argentinos, rumávamos pra minha casa em Porto Alegre para mais um pouquinho de auto-destruição antes das férias dele terminarem. As dele, porque as minhas nunca terminavam. Tocava numa banda, afinal.
Um dia a festa acabou. Meu pai desmanchou nosso qg de bebedeiras e eu tive que voltar pra Campinas, onde meu irmão morava com meus pais. Ele já estava afim de sair do Brasil, pois andava meio mal com a falta de grana e perspectiva nesse país governado por vocês sabem quem.
Eu, recém chegada, descobri que meus amigos de infância e adolecência não tinham mais nada a ver comigo. Sentia afinidade por conhecidos do passado e pelos amigos do meu irmão. Emprego? Quase impossível para uma jornalista que se formou, caiu na estrada com uma banda de rock e tentou voltar ao mercado 5 anos depois. Em 2 meses minha grana acabou.
Meu irmão estava, naquela época, em ritmo de mudança. Cagado até o topo da alma, ele ia vendendo suas coisas pra fazer um pé de meia antes de se aventurar na vida de imigrante ilegal na Europa. No final das contas, acabávamos bebendo toda a grana que ele angariava pela venda dos seus bens. Primeiro bebemos seu baixo rickembaker, depois seu amplificador, em seguida, bebemos seu computador e logo ele só tinha o carro como garantia de subsistência na sua nova aventura. Acho que bebemos só as rodas do carro, talvez o som, mas não tenho tanta certeza.
Ele vivia tentando oferecer meus serviços para seus amigos de agência de publicidade, assessoria de imprensa e tal. Afinal, ele queria me ver numa boa. Provavelmente também sonhava com o dia em que eu pagaria a conta do bar. Me conseguiu um trabalho que não era trabalho, era uma barbada de vagabundo que consisitia em assinar como jornalista responsável num jornal de concessionária. Rendia uns pilinhas por mês e com esse dinheiro, comprei a bicicleta dele. Depois bebemos a bicicleta.
Antes que bebêssemos mais algum bem dele, ele chegou a me oferecer dinheiro para publicar meu currículo num desses sites de recolocação profissional. Mas quando viu que o seu próprio currículo foi ignorado neste mesmo site, desistiu da oferta. Bebemos então o dinheiro da publicação do currículo.
Faltando poucos meses para sua partida para Londres, ele me chamou num canto e me disse uma coisa que eu nunca vou me esquecer: "Gudinha (é, esse é meu apelido em casa e eu não tenho vergonha dele, mas não me chamem assim, tá?), nós vamos fazer o seguinte: eu chego em Londres, arrumo um lugar pra ficar, começo a trabalhar, e quando estiver com a vida acertada e uma graninha sobrando, te mando o dinheiro pra você comprar sua passagem e ir se juntar a nós (ele e meu outro irmão maravilhoso que logo terá um post em sua homenagem também). Você vem morar comigo, arruma um trabalho e a gente sai dessa merda. E ainda por cima, vamos ficar juntos. Nós 3."
Dias depois, conheci um homem lindo que me deu emprego e quis me namorar. Nem preciso dizer que foi meu irmão que nos apresentou. Resolvi ficar no Brasil, casar e ter filhos.
Meu irmão foi. Ralou o cu como homem placa, faxineiro de restaurante, lavador de pratos, limpador de camarão e o que mais o diabo inventar pra torturar a humanidade. Num de nossos contatos posteriores à sua mudança ele me disse: "Ainda bem que você resolveu ficar aí no Brasil, porque eu não ia ter grana sobrando pra te mandar a passagem." Sei que se o nosso plano tivesse continuado em pé, ele teria até se prostituído pra conseguir o dinheiro pra mim. Mas como eu resolvi dar outro rumo na minha vida, sorte dele!
Hoje ele tá ótimo. Uns 3 meses depois da sua mudança pra Londres, sua namorada brasileira filha de belga foi juntar-se a ele. Casaram, ele conseguiu cidadania belga e trabalha numa multinacional justamente na área em que se formou: arquiteto.
Sei que ele está lendo esse blog no conforto do seu lar, uma cobertura charmosa em Louvain La Neuve, cidade universitária grudada em Bruxelas, na companhia de sua esposa querida, tomando uma cerveja cara e comprando online produtos inúteis de última geração. Dedico esse post a ele, que escreve um blog sensacional, lido em mais de 80 países e traduzido para mais de 245 línguas.
Joebass é meu irmão, e eu adooooooro!
2 Comentários:
êêêêêêê e sou o primeiro à comentar !!!!!!!
1. Pela foto você é uma mulher linda, mesmo após os socos do tio Toni.
2. Escreve de forma clara, interessante e atraente, mesmo quando o assunto é o escrachado Joe.
3. Pelo narrado viveu (e vive) sua vida de forma intensa como a maioria só vê em filmes e livros.
4. "Só" por isso já merece uma boa alisada de ego. Parabens!
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